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Foto do escritorLiziane Martins

Coronavírus e as cidades brasileiras em estado grave

A crise provocada pela pandemia do Covid-19 tem provocado muitos questionamentos sobre atual dinâmica das cidades e a forma como ela será alterada por esse novo fator histórico que tanto tem afetado nossa realidade. No primeiro texto de uma coletânea de conteúdos sobre a difusão do coronavírus e a precariedade das cidades brasileiras, o Observatório das Metrópoles levanta a questão de como nossas cidades, com diferenças sociais historicamente marcadas, poderão enfrentar esse momento sem que ocorram maiores prejuízos ao povo brasileiro.

Estudos realizados pela Universidade de Oxford na segunda quinzena de março apontaram que o Brasil pode chegar a ter quase 500 mil mortes por coronavírus se combinado aos fatores pré-existentes como a fragilidade do sistema de saúde público, que enfrenta um processo de sucateamento nos últimos anos. Além disso, o início da curva de crescimento do número de casos indicou que o Brasil poderia enfrentar situações semelhantes aos países mais problemáticos. Dessa forma, notou-se que a nação está passando por um momento crucial que evidencia a atual crise em que nossas cidades se encontram, uma vez que o atual modelo de segregação econômica e socioespacial mostram-se insustentáveis e prejudiciais à questões humanitárias como a saúde coletiva.

Vale destacar também os questionamentos mais pertinentes na situação atual que exige distanciamento social para todos nós habitantes e produtores da cidade: como poderemos praticar esse tipo de interação vivendo em moradias hiper adensadas, nas quais em média cinco pessoas coabitam casas com apenas três cômodos? Como poderemos evitar o contato em espaços de vizinhança hiper adensados? Como resistir a onda de circulação do coronavírus vivendo em espaços insalubres resultantes da precariedade em saneamento básico existente? Como lavar as mãos sistematicamente se ao abrir a torneira pode não haver água? Reflexões como essas precisam ser feitas nesses tempos pois é imprescindível que consideremos essas disparidades no acesso aos serviços básicos nas diferentes camadas da sociedade brasileira. Dessa forma, poderemos elaborar soluções compatíveis com a nossa realidade, buscando amenizar problemas estruturais como a vulnerabilidade social e a questão das moradias insalubres.

Por último, é importante destacar o quanto a forma pela qual passaremos por essa crise moldará o futuro do país. Uma vez que em um momento tão crítico como esse, em que é exigido do Estado ações e equipamentos capazes de minimizar os danos tanto no; campo da economia como em questões humanitárias e do espaço urbano, é necessário também o aprimoramento da nossa visão sobre a importância da coletividade. A pandemia do Covid-19 deve ser um fomentador de discussões sobre esse tema, pois infelizmente estamos sentindo na pele os efeitos do início de um desmonte nas instituições públicas, além da carência de serviços e acesso à moradia digna que afeta a maior parte da população das nossas cidades. Conforme o autor afirma: “É possível que superemos este momento fortalecendo a percepção de que a vida de cada de um nós depende da qualidade dos laços sociais que mantemos uns com os outros, que os problemas da precariedade urbana que atinge quase 70% dos habitantes das nossas metrópoles sejam um desafio coletivo, que envolve também aqueles que desfrutam do bem-estar dos bairros protegidos por muros materiais ou sociais.” Após essa crise, precisamos lutar para construir um espaço urbano digno e que oferte condições igualitárias de acesso a serviços essenciais à qualidade de vida tanto nos espaços públicos quanto dentro de cada habitação.



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